Casal gay que adotou 4 irmãos há 18 anos celebra família e condena preconceito: 'Se focasse nas palavras pesadas, não teria o que tenho hoje'

  • 25/05/2024
(Foto: Reprodução)
João Amâncio e Edson Torres sentem que foram escolhidos por crianças em abrigo após menina mais velha enviar carta de Natal a juiz de Ribeirão Preto, SP, com pedido especial sobre novos pais. Pai fala sobre a adoção dos seus quatro filhos e lembra do preconceito que enfrentou Em 2006, o casal de cabeleireiros João Amâncio e Edson Torres estava junto há 15 anos quando decidiu que era o momento certo para tirar do papel um sonho antigo: o de ter filhos. Foi em uma casa de acolhimento em Ribeirão Preto (SP) que as vidas deles e de quatro crianças que sonhavam com um lar mudaram para sempre. Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Neste sábado (25), quando se comemora o Dia Nacional da Adoção, eles conversaram com o g1 e lembraram as dores e as alegrias que viveram ao longo de 18 anos junto com os filhos Suelen, Bruna Caroline, William e Olga Beatriz, mas, principalmente, celebraram a família que construíram. "Muitas pessoas achavam a gente incapaz, por ser dois homens gays com quatro filhos. Muitas pessoas falaram coisas horríveis pra mim. Se eu focasse naquelas palavras pesadas, preconceituosas, talvez eu não teria o futuro que tenho hoje”, disse João. Os irmãos Suelen, Bruna Caroline, William e Olga Beatriz foram adotados ainda crianças por casal de cabeleireiros de Ribeirão Preto, SP Arquivo pessoal O início Edson, na época da adoção, já era pai de dois filhos biológicos que viveram com o casal até a vida adulta, quando saíram de casa. A saudade do lar cheio e a vontade de dar amor a quem precisa foi o levou os dois a optarem pela adoção, lembra João. O casal já estava há três semanas visitando abrigos em Ribeirão Preto, quando conheceu Suelen, de 9 anos, a mais velha de quatro irmãos, mas não esperava que o encontro iria mudar todos os planos. "Quando a gente foi para o abrigo fomos de peito aberto, com o coração expandindo de amor e foi assim uma coisa de Deus, porque eu fui para adotar, mas eu e o Torres fomos adotados", afirmou João. Os dois pensavam em adotar uma ou duas crianças, no máximo, e já tinham entrado com o pedido de guarda de dois meninos que não deu certo por dificuldades com a mãe biológica. No mesmo dia que receberam o parecer negativo, já perto do Natal, foram presenteados com uma carta. "A Suelen mandou uma carta para o juiz. Ela pediu um presente para o Papai Noel de Natal e o presente seria os dois pais que ela tinha conhecido no abrigo". João Amâncio e Edson Torres com os filhos biológicos, Sônia e Paulo Augusto e adotivos, Suelen, Wiiliam, Olga Beatriz e Bruna Caroline ainda crianças Arquivo Pessoal A possível separação dos irmãos Na época, Suelen tinha 9 anos e os irmãos Bruna Caroline, William e Olga Beatriz tinham 7, 5 e 3 anos, respectivamente. Os quatro estavam no Centro de Acolhimento de Ribeirão Preto (Carib), que recebia casos de violência doméstica e maus-tratos. Segundo João, a idade já avançada das crianças, quando comparada àquela mais desejada por quem opta pela adoção, e o histórico eram algumas das dificuldades enfrentadas por elas. "Quando fala da adoção tardia, ela é realmente para quem tem muito amor no coração, porque o histórico deles, quando você vai ler dentro do fórum, antes de retirar eles, olha, é muito doloroso. Antes de ter o contato, de ver eles, você tem um amor infinito que brota ali no laudo dos filhos". Edson Torres com uma sobrinha e as filhas Suelen, Olga Beatriz, Bruna Caroline e Soninha Arquivo Pessoal Além dessas questões, a Justiça não recomenda a separação de irmãos em uma adoção, o que foi explicado para as crianças, principalmente para Suelen, a mais velha. "Como ela passava com psicólogo, ela disse [na carta] que até aceitaria separar os irmãos, mas se fosse para morar comigo e com o Torres", disse João. Quando receberam a carta, deixar duas das crianças no abrigo não era uma opção para o casal. Criados em famílias grandes, Edson e João entraram em um acordo e decidiram que os quatro irmãos teriam um novo lar juntos. O processo, devido às suas peculiaridades, foi rápido e após duas idas ao fórum, eles saíram já com os filhos, ainda com tutela provisória que foi revertida em definitivo três anos depois. "Quando chegamos em casa foi coisa de louco, foi muito fantástico, porque quatro crianças assim de repente, a gente estava até sem preparação. A nossa preparação maior dentro de casa era o amor para os filhos. A gente se virou com as camas, fomos comprar roupas". João Amâncio e Edson Torres com as filhas Olga Beatriz e Bruna Caroline e o filho William Arquivo pessoal A vida e a perda do filho Graças ao trabalho dos pais como cabeleireiros, nunca faltou nada à família. Atualmente, Edson e João vivem em Mongaguá (SP), onde ainda atendem clientes. João tem 51 anos e Torres, 58. O dom de lidar com cabelos foi passado para as filhas. Suelen mora em Maringá (PR) e tem o seu próprio salão de beleza. Bruna Caroline e Olga Beatriz moram juntas em Três Lagoas (MT), onde também trabalham com serviços de cabelereiro. Já o William, único homem entre os irmãos, seguiu outro caminho. "O William fez colégio agrícola em Penápolis (SP), chegou a trabalhar no setor de RH e tudo. Depois, ele teve uma proposta melhor em Maringá, trabalhava de coveiro e ganhava muito bem lá". João Amâncio e o filho William ainda pequeno em um brinquedo de parque de diversões Arquivo Pessoal Mas a família enfrentou um baque em 2023. Após ser diagnosticado com Covid por quatro vezes, William começou a apresentar problemas nos rins. Ele iniciou o tratamento com hemodiálise e tentou entrar na fila de transplante, mas não conseguiu devido a uma anemia, explica João. No início do tratamento, os pais estavam morando em Portugal e ficaram mais aliviados porque o filho estava assistido por médicos e dando sequência às orientações. Uma semana após voltarem ao Brasil, em novembro de 2023, depois de uma piora no quadro, Suelen telefonou para os pais e contou que o irmão não havia resistido. "Foi horrível, a nossa vida apagou. É uma dor que todo dia a gente lembra, todo dia chora, todo dia tem aqueles calafrios e aí, longe de todos os filhos, parece que a gente fica pior ainda", diz João. Ele lembra que William sempre foi muito carinhoso e fazia questão de chamar os pais para sua casa, principalmente depois que teve a primeira filha, segunda neta do casal. João lamenta que nunca mais vai poder reunir toda a família novamente, mas não se esquece de todo amor, cumplicidade, carinho e afeto que foi construído ao longo da vida em família. "Eu acho que eu e o Torres e essas crianças são tudo pra mim. É uma coisa de alma, uma coisa de outra vida. Eu não me vejo sem os filhos biológicos e sem os adotivos, é uma coisa muito fantástica". Bruna Caroline, Olga Beatriz e William com os pais Édson Torres e João Amâncio Arquivo pessoal O preconceito Após todo o processo de adoção, João e Edson escreveram um livro de forma independente para compartilhar a experiência e falar, principalmente, sobre o preconceito da adoção tardia e da homossexualidade. Foram muitas ofensas e situações homofóbicas vividas na época e que até hoje ecoam na memória de João, impossível de serem apagadas. "Eu escutei de várias pessoas que falavam que era melhor quatro crianças adotadas por um casal gay do que estarem na rua. Os nossos filhos vieram como se a gente fosse assim a única opção pelas palavras dessas pessoas, e não era isso. Meus filhos vieram para nós porque ali brotou o amor. A gente estava procurando escolher e fomos escolhidos", afirma João. O livro, que foi doado para vários abrigos, asilos, bibliotecas, buscava e ainda busca incentivar a adoção tardia. São crianças, segundo João, que já estão sem esperança de um futuro, desanimadas e muitas vezes traumatizadas por episódios anteriores. Edson Torres com a filha Bruna Caroline Arquivo pessoal Na época, o caso de João e Edson foi muito comentado e o casal deu diversas entrevistas que tinham sempre a função de mostrar que o amor é possível na adoção e tem que ser livre de preconceitos. "Adote uma criança, faça uma criança feliz e quando você adotar uma criança e pensar em desistir dela porque ela fez qualquer coisa de errado, olha para o teu espelho. Quando você era criança, você não fez nada semelhante? Nós vamos vivendo e esquecendo o passado. É normal uma criança sempre estar errando, mas nós temos que mostrar o novo caminho, uma nova educação, o caráter, a dignidade, a gentileza”, afirma João. Apesar do preconceito da sociedade, dentro de casa, os pais do casal sempre apoiaram a decisão dos filhos em adotar e essa educação foi passada para as crianças, desde que chegaram ao seu novo lar. "Graças a Deus, eu posso dizer eu estou muito bem realizado, muito feliz com os meus filhos. Eles são meu sangue, meu DNA de alma, entendeu? Porque não precisa do meu sangue correr nas veias deles. Para mim, é como se fosse meu sangue. Se existir outra vida, eu tenho que resgatar eles nessa vida. Então, gente, vamos pregar o amor para sermos amados”. *Sob supervisão de Thaisa Figueiredo Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região .

FONTE: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2024/05/25/casal-gay-que-adotou-4-irmaos-ha-18-anos-celebra-familia-e-condena-preconceito-se-focasse-nas-palavras-pesadas-nao-teria-o-que-tenho-hoje.ghtml


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